Friday, April 20, 2007


Porque não escrevem as pessoas que não escrevem?

Na minha adolescência decidi escrever tudo o que me acontecia. Como tal, qual Rimbaud, enchi cadernos e cadernos de escrita compulsiva e desordenada. Não chegou a ser tão famoso como o que escreveu Rimbaud, e a qualidade, quanto a mim deixava muito a desejar. Talvez não tenha sido mau, se não a esta hora andava a traficar escravos! Mas o bicho ficou. Umas vezes mais, outras menos, num guardanapo ou num caderno lá vou acrescentando mais uma linha ou uma palavra. No entanto eu nunca publiquei nada, também nunca terei escrito nada que valesse mesmo a pena, nem o dei a ler a ninguém. Acho que era o Possidónio Cachapa quem dizia que escrevia o que gostava de ler. Acho que isso deveria ser a missiva de todos os escritores. Mas o que nos faz escrever e dar a conhecer aos outros aquilo que fazemos não deixa de arrastar consigo essa pontinha de vaidade, de reconhecimento que se quer dos outros. Não sei se o que demove as pessoas que não escrevem a não escrever é o facto de não terem essa necessidade de reconhecimento alheio, a ignorância (entenda-se como falta de instrução/ raciocínio relacional) ou pura e simplesmente o facto de não terem tempo de pensar sobre as coisas. Provavelmente qualquer uma delas ou mesmo todas juntas. Mas para escrever é preciso tempo. Tempo para viver e observar o que se passa à nossa volta, tempo para pensar nos outros e em nós.

Esse tempo foi o mesmo que levou Marx a reflectir sobre o capitalismo e alertar para a possibilidade de uma sociedade mais equitativa e justa. Foi também esse tempo que levou Pessoa a conseguir criar mais do que uma personalidade. E desse tempo nasceram todas as literaturas de todos os países de todo o mundo. Mas esmiuçando mais a questão e indo à origem da questão, quem são esses escritores?

Até meados do século XX esses escritores eram quase todos eles nobres ou burgueses de famílias com algumas posses que podiam prosseguir os seus estudos, alguns mesmo até à Universidade. Digo até meados do século XX porque na Europa essa tendência começou a contrariar-se mais ou menos depois da 2ª Guerra Mundial, ainda que em Portugal só mesmo a partir de 1974, com o nosso Abril. Agora todos temos escola e meios para poder estudar e ler e escrever. Pelo menos por aqui. Hoje em dia a tendência é para cada vez mais livros editados e nem sempre legíveis. Parece que agora já podemos dizer tudo sobre tudo e ainda assim há pessoas que não dizem nem escrevem tudo sobre tudo. Talvez prefiram não dizer nada. Se calhar o melhor é estar calada…

3 comments:

Mario said...

Creo que até o de agora é a resposta máis traballada e da que máis gostei. É certo que se edita demasiado, pero tamén é unha porta para que pasen diamantes que doutra forma ficarían nun eterno anonimato.

begira... said...

ola! costoume un pouco o portugués, bastante teño xa co galego ;) pero gustoume moito a resposta a mario. tés toda a razón nesa reflexión sobre os orixes da xente que escribiou ata moi tarde; e tamén en comentar por que a xente non escribe agora que pode. supoño que tamén hai cada vez máis modos de expresión; tamén agora estudan belas artes moitas máis persoas que antes, ou graban vídeos e os poñen en youtube. supoño que coa globalización os medios de expresión se diversifican e masifican, para ben e para mal, e a xente se reparte entre uns e outros...

begira... said...

ola pipi!
aínda non sei donde vai ser o recital e a que hora, pero en canto o saiba deixoche un post para que veñas. seguro q está moi ben, xa teño gana de visitar a vosa cidade, que parece moi bonita dende o google earth!
biquiños

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